segunda-feira, 9 de junho de 2008

AMOREIRA DA GÂNDARA - Património Cultural

  • Arquitectura Religiosa:
- Igreja Paroquial de S. Martinho:

A Igreja Paroquial de Amoreira da Gândara tem por titulares S. Martinho e o Sagrado Coração de Maria. Criada a freguesia, fixou-se a sede na antiga capela de S. Martinho.
O edifício foi renovado e ampliado no período compreendido entre 1944-1950, conservando-se, todavia, parte das paredes laterais. A torre da fachada é anterior à reforma. Foram ainda aproveitados pequenos elementos. O púlpito que é de calcário data do século XVII, possui bacia cilíndrica, mas renovada e pé em forma de balaústre. Num pequeno nicho da frontaria colocaram S. Martinho, vestido de bispo, de calcário, do século XV, de tipo popular.
Conserva-se na sacristia uma placa calcária tendo em relevo o Calvário (Crucificado, Virgem e S. João) sob arco conopial, pertencente ao século XVI inicial, gótico, obra corrente. Há ainda uma Nossa Senhora da Conceição, do século XVII, de pedra e de pequeno nível. Nas obras de ampliação colocaram no solo, à entrada, duas campas da família Tavares Ferrão, transferidas do adro. Cada uma tem um brasão composto das cinco estrelas dos Tavares e das cincos faixas dos Távoras, o qual se insere num rótulo do tipo da primeira metade do século XVIII que foi inteiramente retocado e avivado na altura da mudança. Sob estas campas colocaram as ossadas de pessoas da mesma família, comemoradas em letreiros modernos.




(Igreja de S. Martinho - foto 2005)


(altar da igreja de S. Martinho - foto 2005)


  • Arquitectura Civil:

- Solar dos Távoras:

Viveu em Amoreira, a nobre família dos Távoras e algum dos seus descendentes, mais conhecidos pela família Tavares Ferrão.
O primeiro proprietário de vulto da casa dos Távoras de Amoreira da Gândara que nos aparece referenciado e Afonso Vicente, homem da privança de Gonçalo de Gamide, escrivão da Puridade de EI-Rei D. João I. Sabe-se que Afonso Vicente o acompanhou na tomada de Ceuta e por tal recebeu mercês de D. João , D. Duarte e D. Afonso V, bem como exerceu o oficio de escrivão das Sisas de Aveiro, cargo de que D. Duarte lhe mandou passar carta em Almeirim aos 16 de Dezembro de 1433, confirmada em Santarém aos 22 de Agosto de 1439. Ora Afonso Vicente foi senhor de dois casais em Amoreira da Gândara, senhorio que nos aparece citado no foral de Sangalhos, que D. Manuel assinou e datou em Lisboa a 20 de Agosto de 1514. Textualmente diz-nos isto o documento:
"tirando dois cartazes de Afonso Vicente, que pagão sabido dois capoens e pao sabido a saber de cada hu: outtro alqueires e metade trigo e a outra de centeo». Sabe-se ainda que estas terras eram separadas pelo rio Real e, a ter em conta o testemunho do seu 4° neto o licenciado Custódi o Fernando das Neves, mandou edificar no do lado norte sua moradia, mais dizendo que seu antepassado "houve de gran poder e fama», cultivando e povoando toda a zona que dantes eram matos bravios. Outro documento a salientar data de 1768, quando se fez um levantamento dos bens de D. Maria Angélica das Neves, viúva do doutor Manuel Afonso Vicente. Nele voltam a aparecer os citados casais, afirmando-se que no lado norte situam as casas de habitação, casa de lagares, estrebarias e mais dependências. Afonso Vicente casou com Catarina Lopes e teve de urn filho, Vasco, herdeiro das fazendas de seu pai, e uma filha; Catarina Afonso, mulher que foi de Martim Gomes Mexia, filho de Lopo Vaz Mexia. Ora ate a segunda metade do século XVIII e como já deixamos atrás citado, não nos aparecem os apelidos de Mendonça Ferrão e Castelo-Branco. Não excluímos a hip6tese de ter havido um casamento no século XVII com os Tavares de A veiro, algum descendente de Francisco de Tavares e sua mulher D. Joana de Távora, instituidores da capela-panteão no convento de Jesus de A veiro, segundo 0 letreiro existente que data essas obras de 1592. Para este trabalho e 0 que interessa e que a pedra de armas, com os quartéis esculpidos, data dos finais do século XVIII, talvez mesmo dos primeiros anos do século XIX, se atendermos que se encontra inserida num cunhal de cantaria de construção simples de rés do chão e l° andar. Durante a guerra civil era senhor da Casa Real, coronel de Milícia da Figueira da Foz, cavaleiro da Real Ordem de Nossa Senhora da Conceição, que se bateu no cerco do Porto pelo Senhor D. Miguel e foi Morgado de Recardães e Fontechans. 0 filho deste, José Pintio de Tavares Ferrão Castelo-Branco, senhor da quinta da Silveirinha, em Veiros, não só herdou todas as honras de seu pai, como foi ainda senhor das Casas das Tenentas, em Anadia, e da Sepins, casando com a filha do Bacharel Fernando Afonso de Almeida Coutinho, da casa dos Capitães-Morés de Anadia, e sendo estes pais do já citado D. Fernando de Tavares e Távora.
Armas e Dados Genealógicos
Em estudo francês esquartelado, rematado pelo coronel de nobreza, lêem-se os seguintes nomes:

1 ° - Ferrão - De prata, com cinco arruelas de vermelho, cada uma com seu ferrão azul, apontado para baixo; 2° - Castelo-Branco - De azul, com um leão de ouro,
armado e lampassado de vermelho;
3° - Tavares - De ouro, com cinco estrelas de seis raios de vermelho;
4° - Mendonça - Frachado: 0 primeiro e 0 quarto de verde, com banda de vermelho, perfilada de ouro; 0 segundo e 0 terceiro de ouro, com um S a negro.
As origens dos Castelo-Branco ficaram " mencionadas quando se registou um pouco de história da Casa de Óis do Bairro.
FERRAO - Este nome já existia no século XV, se bem que se desconheça a sua origem. Sabe-se que o mais antigo que aparece mencionado e Álvaro Gonçalves Ferrão, morador em Viseu e casado com Branca Vaz da Costa. Destes nasceu uma Leonor ou Joana Ferrão, que casou com Vasco Pais de Castelo -Branco, filho de Vasco Pais Cardoso, alcaide-mor de Trancoso, senhor de Moreira e Ervilhao, e de sua mulher D. Isabel Vasques de Castelo - Branco, de quem houve larga descendência que propagou o apelido Ferrão Castelo-Branco, como e o caso dos senhores desta Casa.
(
Aqua nativa Nº 14 pág. 72)

Assim, no centro da povoação, a marginar a estrada e debruçado sobre o rio de Levira, fica o solar de l778,com o respectivo brasão.
Abre-se a entrada, na fachada lateral do corpo da esquerda, dando acesso, a uma boa escadaria de dois lanços, um deles perpendicular a outro paralelo à fachada, com dois patamares.
As guardas da escada são de balaústres.
A porta é de vãos curvos e aros recortados.




(Solar dos Távoras - foto 2004)

(Brasão da casa dos Távoras - foto 2004)



  • Arquitectura Administrativa:

- Cruzeiro, no Largo Bento Lopes:






















- Educação:

Em relação à educação, a freguesia possui um jardim de infância e duas escolas primárias.


(EB1 [construção mais recente] amoreira da gândara)



(EB1 da Relvada em Amoreira da Gândara)


- Ecónomia:

Numa freguesia eminentemente rural, a agricultura assume grande importância.
Também a indústria vitivinícola é importante, produzindo-se aqui o bom vinho da Bairrada.
Nesta freguesia existem também oficinas de reparações de automóveis, serralharia, metalurgia.



- Saúde:

No âmbito da saúde, a freguesia tem ao serviço da população um posto médico e uma farmácia.
Contudo em situações de maior gravidade, os habitantes deslocam-se ao Hospital Distrital de Aveiro.


- Desporto e Cultura:


Amoreira possui as seguintes associações: Associação Desportiva Amoreirense, que dispõe de uma sede social própria e campo próprio para praticar futebol; o Baluarte, que promove representações de peças de teatro; Casa do Povo; Centro de Dia; Apoio Domiciliário, Creche e A.T.L.


- Festividades e Tradições:

S. Martinho (11 de Novembro) e Sagrado Coração de Maria ( 1º Domingo de Setembro)

A tradicional festa do Imaculado Coração de Maria, que ainda hoje tem lugar no primeiro Domingo de Setembro, constava de missa cantada, acompanhada de sermão e a culminar a procissão. Da igreja saíam os andores enfeitados com flores seguindo o percurso até ao cruzeiro e recolhendo novamente à igreja. Na procissão iam sempre pessoas a cumprir promessas, umas rezando, outras descalças, de joelhos ou vestidas com diversos hábitos. Havia quem oferecesse à padroeira ouro, flores ou dinheiro. Terminada a procissão tocava a banda até ao anoitecer. Já à noite dava-se início ao arraial. Esta festa sofreu alterações ao longo dos tempos. Actualmente, festeja-se também o S. Martinho celebrando-se missa, procissão e arraial.


- A Páscoa na Aldeia:

Antigamente, logo de manhã tocavam os sinos e saíam duas cruzes, uma para cada lado da localidade, que eram levadas pelos Juízes da Igreja. Começava-se a beijar a cruz de casa em casa onde toda a vizinhança, familiares e amigos se reuniam. Como sinal de que a cruz se estava a aproximar, tocava uma campainha que geralmente era trazida por uma criança. Havia outra que trazia um saco onde cada um depositava o seu donativo. O pároco, ao entrar nas casas, benzia-as com água benta e rezava a seguinte oração:
Aleluia, Aleluia Cristo ressuscitou Aleluia, Aleluia
Após o beijar da cruz, comiam-se amêndoas, tremoços, amendoins, pão-de-ló, bolo da Páscoa e o que cada um entendesse oferecer. No final do dia, quando as cruzes recolhiam, repicava o sino. Neste dia, era hábito os afilhados esperarem os seus padrinhos para receberem o folar (Bolo da Páscoa). Esta tradição manteve-se inalterada até aos dias de hoje.



- Festa do Galo:

Pelo Carnaval era hábito realizar-se, na escola, a tradicional Festa


- Casamentos de outros tempos:

Desde os primórdios da humanidade que sempre se celebraram casamentos. Estes eram bastante diferentes dos actuais.
Quando um rapaz e uma rapariga queriam casar, os pais do noivo iam pedir a mão da rapariga em casamento. Nesse dia marcava-se a data e o noivo oferecia, à noiva, o anel de noivado. Dois meses antes do casamento faziam-se os convites.
As noivas, de um modo geral, levavam um fato composto de saia e casaco e um véu. No entanto, as que pertenciam a famílias abastadas levavam vestido branco comprido envergando na mão o tradicional ramo de laranjeira (símbolo de virgindade ).
Após o acto católico, os noivos eram felicitados pelos convidados e a madrinha da noiva atirava amêndoas, na porta da igreja, para as crianças que por ali estivessem. Seguidamente, dirigiam-se a casa dos pais, ajoelhando-se na soleira da porta pedindo a sua bênção bem como perdão pelas ofensas passadas. Ao chegar a casa, a rua estava enfeitada com verdura e flores da época. Havia uma mesa com uma terrina que era destapada pelos noivos de onde saía um casal de pombas.
Partia-se para a boda que tinha como pratos: canja, cozido à portuguesa, carneiro assado com batatas e o tradicional leitão. Durante o almoço, a madrinha da noiva espalhava amêndoas pela mesa para os convidados. À sobremesa comia-se pão-de-ló, aletria, arroz doce e bolo de noiva.
Para beber servia-se vinho que os pais da noiva fabricavam em casa, embora nos casamentos mais ricos fosse servido espumante.
Quanto às núpcias ou não as havia ou eram curtas e passadas no país. Os noivos iam morar para casa dos pais de um deles.


- Formaturas:

Sempre que alguém terminava o seu curso fazia-se-lhe uma festa. Começava-se por ir esperar a pessoa ao comboio e iniciava-se o cortejo, apenas com alguns carros. Ao chegar à freguesia estalejavam foguetes e ofereciam-se flores ao recém – formado, acompanhadas dos respectivos cumprimentos de saudação. As raparigas solteiras atiravam pétalas de flores ao recém – formado. Os pais ofereciam um lanche aos convidados e abriam a adega a todos aqueles que quisessem beber. Para animar a festa, convidavam-se alguns músicos e todos dançavam.


- Fontes Existentes:

Pinguela (fonte e lavadouro)
José Cardoso

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